
Já não sinto mais prazer em ler-te. Suas palavras me parecem tão efêmeras agora, palavras que em seus complexos sentidos e enfileiradas confusamente, só me parecem um texto simples e sem literariedade.
Fostes um dia a exaltação da alma artística literária aos meus olhos. Olhos estes que não te veem mais como antes, que na verdade nem te veem. Cegos de uma voluptuosa indiferença corrompida por teus gracejos juvenis aglomerados a outrem.
Tua pureza digna de admiração e desejo, derreteu como cera ao ascender da vela, e a luminosidade calorosa emanada pela chama cegou, não só os olhos mas meus sentidos, antes dedicados a ti.
Tristes palavras minhas que se colocam no papel depois de tão inversa inspiração, tuas paginas não me arrepiam, nem enebriam mais.
Oh! Triste fim para tão gloriosa face das letras, que um dia mostrara sentidos unidas e hoje são embaralhados sonoros vazios.
Não há mais versos que me tragam tua musicalidade, nem há mais musicalidade em seus versos.
Griz inspiração essa que me permitistes, essa inspiração de desgosto da ausência da mesma, deveras falsa e imprópria, sem caos ou sofrimento, quiçá alegria e exaltação, inspiração vinda do vazio promovido por tuas páginas.
Livro este apenas apolínio, formas e estética, ainda que tortas, só formas e estética. Nada além de oco e eco desse faltar.
Folheio-te sem vontade, com a graça de uma menina que perdera a primavera de suas estações, e que das flores desenhadas nem o cheiro mais consegue imaginar.