
A verdade é que eu não queria escrever. Eu lutei para não fazer, mas foi mais forte que eu.
De repente de dentro de mim saia, ou permanecia sei lá, uma angustia que só queria me fazer chorar, e chorando eu me arrepiava, e arrepiando as idéias vinham tomando minha mente, forçando-me a vomitá-las.
Queriam sair sem nexo. Eram muitas, são muitas!E vão dominando todo meu ser, passando de pensamentos a dores no corpo, pela força que elas fazem para sair.
Dessa vez elas estavam querendo me dizer algo. Não apenas se expressarem para outros, mas queriam me mostrar o que eu não via!
Me viram querendo trocar de inspiração. Tirar essa paixão corrosiva que dissolve meus dias felizes e que permitem elas existirem.
Sei que elas estão pensando só em mim e não nelas. Elas aparecem tão facilmente quando a duvida, a angustia ou a esperança está em mim, e sei que preciso da paixão para escrevê-las.
Mas elas sabem que só existem porque a dor existe com elas.
Nunca vou abandoná-las! Contudo se isso passar não as verei com freqüência, e tenho certeza que poderei matar a saudade quando quiser.
Preciso me livrar disso. Sei que foi culpa minha, eu provoquei isso a mim, e só eu posso apagar.
Tá!
Posso tentar apagar. Não dá para apagar como o que foi escrito, não é só passar uma borracha. Como seria fácil!
Queria voltar aquele dia que eu cruzei com seu sorriso, podia nunca ter o visto, e agora não saberia a diferença de como você sorri quando ta rindo com os amigos, quando ta cumprimentando alguém, ou quando fala palavras que te provocam um sorriso. Podia não lembrar de todos eles, podia não senti saudades deles.
Queria não precisar, nos dias mais chatos, te ver e fazer tudo ficar mais colorido. Podia não ter esperado para te ver nesses dias, podia não ter alimentado isso.
Agora me pego tentando me apaixonar por outros sorrisos, e quando percebo que estou fazendo isso, nem mesmo o meu sorriso sai!
Tento ocupar minha cabeça com outras coisas, sei lá, qualquer coisa, mas tudo passa rápido, nada é tão forte como a lembrança.
Sei como é difícil esperar por alguém que nunca vai chegar, que nunca nem mesmo viu um caminho a ser seguido.
Queria não saber mais que você existe, queria nunca ter descoberto isso, queria não precisar te procurar, queria não saber mais onde te encontrar, mas sei que se não soubesse nada de ti ficaria angustiada de não saber se você ainda está em algum lugar, de onde possa vir, que eu possa continuar a esperar, que eu possa continuar a escrever.
Por mas que eu não queira mais nada, por mas que eu não queira nem querer, involuntariamente ainda quero.
E sei que se eu sumir, nem mesmo vai notar a minha ausência. Talvez em um dia quando a solidão te assombrar, sinta alguém pensando em você, e vai buscar no passado quem poderia ser, e no meio de todas as lembranças a minha passaria e por um instante cogitaria a idéia de ser eu, mas logo em seguida diria a si mesmo: não!, e me esqueceria outra vez.
E assim sem reclamar espero você passar.
Enquanto não passa vou convivendo com uma saudade que mal trata, mas assim ela me inspira, e eu escrevo, querendo ou não querendo.
Escrevendo eu fujo. Não para longe, nem para perto, na verdade para lugar algum, só tenho a liberdade de ser o que eu quiser, até esquecer o que eu quiser, mesmo não esquecendo...
Vai saindo assim essas palavras que dizem muito ou nada, mas que relutam em não ficarem aqui presas.
E em favor delas, vou deixá-las sair!
Talvez eu devesse apagar todas, e deixar apenas um “por quê?”....
Mas fazem tanta graça juntas, e escreve-las é como amenizar tudo.
Mesmo que não passe...
_Vai passar!
Mesmo que não se diga nada...
_Vou escrever!