Natalício


Todo Natal, nas mensagens que recebemos, vemos sempre que estão repletas de desejos e pedidos de Paz, Amor, Harmonia, entre outros. Sentimentos estes que dependem única e exclusivamente de nós mesmos. Então este ano eu não vou lhe desejar nenhum sentimento, vou lhe desejar ações.
Isso mesmo, aja! A vida é muito breve para que fiquemos esperando que a Paz, o Amor, a Harmonia cheguem até nós como presente de Natal ou promessa de Ano Novo.
Então desejo a você apenas três ações:
Primeiro, Perdoe. Esqueça aquela briga por causa do brigadeiro que queimou na panela e seu irmão riu uma semana de você. Desculpe seu namorado por não lembrar do dia que vocês fazem dois meses que escolheram a música de vocês ou mesmo desculpe aquele folgado que entrou na sua frente na escada rolante no meio do metro lotado.
A gente se irrita e guarda magoas de coisas desnecessárias. Se esvazie desses sentimentos, se liberte dos julgamentos, perdoe a todos e principalmente perdoe a si mesmo.
Agora que você já jogou fora todos esses sentimentos vazios, perdoou e foi perdoado, a segunda coisa a fazer é Ajudar.
Ajude um ceguinho irritado a atravessar a rua, mesmo que o sinal seja sonoro e que ele esteja atravessando aquela rua do lado esquerdo de uma praça que nunca passa carro nenhum. Colabore com a sua mãe na elaboração daquele arranjo de flores indianas que ela viu num programa brega das 14h da tarde, que ninguém vê, e que ela achou lindo, mas por ser um arranjo de 2 metros de altura ela não consegue fazer sozinha, e ela podendo pedir para seus outros 5 irmãos foi pedir justamente para você, ajude mesmo assim. Ou melhor ainda, apenas sorria para alguém emburrado e de um abraço naquele amigo reclamão.
A ajuda ao próximo fará você se preencher de coisas boas, porque dinheiro nenhum paga um obrigado de coração ou um sorriso de gratidão.
Agora você já se livrou dos sentimentos ruins, se encheu dos bons, não fez nada de difícil, e por terceira e ultima ação eu desejo que você Celebre.
Festeje os momentos com seus amigos, família, amores, inimigos, desconhecidos, todos que passarem na sua vida.
Comemore mesmo! Pule de alegria se quiser, fique em silencio se essa for sua maneira de celebrar, sorria, cante, dance, se misture às doideiras alheias, faça de cada momento uma festa, porque só o fato de você ter nascido, poder renovar seus desejos e promessas todos os dias ao acordar e saber que independente de qualquer outra pessoa a sua felicidade só cabe a você, são motivos suficientes para você comemorar.
Não espere para agir, faça isso esse ano ainda, porque o amanhã não existe, ele é apenas o hoje que já estamos vivendo. E não se esqueça que viver é arriscado, então se arrisque.
Que o seu Natal seja repleto de ações e que você não faça promessas para o Ano Novo, mas que você apenas realize!
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Os pontos dos contos


Os dias vão passar, e você vai cair no esquecimento.
Vou ver as pessoas e o mundo como sempre os vi. Vou me encantar por sorrisos, acreditar em sonhos, achar que nada é impossível e que eu posso o impossível. Vou chorar com histórias bonitas, escrever algumas, viver algumas.

Você vai viver seus momentos, talvés não veja as coisas com o mesmo entusiasmo que eu, mas as verá. O Sol vai continuar nascendo, brilhando e se pondo, e as noites sempre virão sombrias, com lua, estrelas, ou só com seu breu.

As pessoas vão passar, algumas eu não vou nem perceber, outras vou sentir intensamente, e assim como o tempo vão escorrer entre nossos membros e não voltarão. Mas eu vou continuar acreditando nelas. Vou ouvir que estou errada, que me permito encantar, que a vida não é assim.

Acredite, a minha é! Sinto-a como uma narrativa, um romance devido ao tamanho, e um paradoxo por ser real, nem sempre escrito com minhas palavras, nem sempre as personagens que quero ficam juntas, mas enriquecem a história. Aos poucos vou tentando moldá-la, mas acredito que ainda me faltam palavras, as que tenho não são suficientes.

Quando a minha história estiver em outro capítulo a sua também estará, as personagens vão mudar, e quem sabe em alguma aspas a gente possa ser uma citação, não mais que isso. Contudo os finais felizes só dependem do escritor, talvés você nunca faça parte do meu final. Pode ser que seu capítulo nem apareça na edição revisada, mas posso dizer que foi ótimo escrevê-lo. Agora vou arquivá-lo, em alguma pasta que talvés eu nunca mais encontre ou que com o tempo seja impossivel ler, se deteriore, não sei ao certo.

Na verdade te vejo mais como um conto que um capítulo. Um conto de uma lauda, rípido e objetivo, porém intenso em sua literariedade e complexo no seu desenrolar.
Estou sempre pronta à reescrever histórias, porém há momentos na vida que elas não devem nem ser recontadas.
Não quero ler nada desse conto agora, sequer a apresentação. Por um tempo não o farei, mas vou tentar editá-lo algum dia, pode ser que eu consiga, e o fim possa ser outro ou enfim se tornar um capítulo importante. Por agora só quero que seja uma página virada para que eu tenha uma em branco à escrever.
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Doação


Todo dia ele passava pela praça e via sempre as mesmas coisas, o pipoqueiro, o cara dos balões, as babás com as crianças, a galera da maromba, algumas pessoas passeando com seu cães. Atravessava-a para pegar o ônibus para o trabalho.
Todos os dias eram assim. Pipoqueiro, baloeiro, marombeiro, e por aí vai.
Contudo, um dia viu uma coisa muito intrigante. Uma jovem muito agraciada pela beleza, com olhos mareados, o rosto denunciando a noite tristonha, estava sentada num banco com um pedaço de papelão escrito com batom vermelho:
“Doa-se um coração”
Ele não sabia o que pensar. Será que ela iria morrer e queria que doassem seu coração? Ou ela era suicida e queria arrancar o coração? Alguém precisava ajudar essa moça.
Parou em frente a ela, que logo o indagou:
_ Você aceita o meu coração? – uma lágrima escorreu de seus olhos – Ele não tá muito bom, ainda bate, eu tive que colar ele de ontem para hoje, foi rápido, mas ficou direitinho.
Ele fez uma cara de estranheza e disse:
_ Moça, não preciso que me dê nada, só fiquei preocupado, você está bem?
As lágrimas escorriam por seu rosto lânguido e alvo, e quanto mais ela chorava mais branca ficava e seus lábios corados pareciam peças de carne sanguinolentas.
Entre soluços ela tentava contar uma história, mas nada se entendia, somente algumas onomatopéias saiam.
Sentou-se do lado dela, passou seu braço pelo ombro e disse:
_ Acalme-se, conte-me o que houve.
Ela respirou fundo, deu algumas fungadas, esfregou os olhos com as mão e começou.
_ Ontem a noite, eu tentei atravessar a rua da vida, deixei meu coração cair, veio um caminhão e o atropelou. Doeu tanto, o vi partir e esmigalhar em muitos pedacinhos. Esperei o sinal fechar, recolhi tudo e colei. – Ele achava tudo muito esquisito mas não a interrompeu – Sabe não é a primeira vez que isso acontece. Sempre que me distraio e o perco, ou o preencho e fica pesado, ele cai, espatifa no chão, ou é pisado, atropelado, se parte, eu cato, colo, e fico com ele de novo. Sempre falta um pedacinho, nunca fica perfeito, mas bate, sempre volta a bater. Não é incrível?
Ele acenou com a cabeça que sim, e ela continuou.
_ Sabe o que é mais incrível? É que sempre quando você acha que ele ta seguro, em mãos confiáveis, é que a queda é maior.
Ele já não se segurando para falar, disse:
_ Mas se ele bate, funciona bem, e ainda, mesmo faltando pedaços, sobrevive a tantas desilusões, porque quer se desfazer dele?
_ Porque acho que nunca vou saber usar, e sempre tem alguém precisando mais que eu. Eu desisto, não preciso de um coração, já não me serve mais.
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Desabafo II


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Fui buscar conforto na melancolia de Billie Holliday, e a vontade de cuspir toda essa dor que me corrói foi crescendo que tive que escrever.
Lembro sempre do sábio que me disse “Escreve que melhora”, mas dessa vez esse não é bem o objetivo. Sei que não vai melhorar nada, porque eu não quero ainda que esse sentimento saia de mim. Talvez seja burrice da minha parte mas não dá para jogar fora algo que você quis tanto que acontecesse.
Eu já sei como tudo funciona, e quem sempre fica sozinha sou eu, mas eu não sei mais o que fazer. Ah! Como já desejei, várias vezes, ser daquele tipo que olha nos olhos e diz: _ Fica comigo que eu te faço feliz! Ou: ­_ Esquece ela, ou deixa que eu te faço esquecer!
Mas não sei ser assim, é exatamente isso que eu queria que acontecesse, mas de que adianta quem acaba sozinha sou eu.
Está doendo mais do que imaginei que fosse doer, como eu queria que não fosse verdade, mas é, sempre, e nessas horas a gente pensa que a culpa é nossa, que nunca vai dar certo, ou que não somos merecedoras de ser correspondidas a altura. Digo no plural porque acho que não sou só eu que sinto as coisas assim.
Mas meu coração está cansado de mais, passar por isso sempre, talvez não só o meu no mundo, mas nessas horas o mundo fica tão pequeno, não importa quanta gente sofre também, porque ninguém está sentindo a minha dor, só eu.
As pessoas falam sempre os mesmos conselhos, e fazem sempre as mesmas apostas para o futuro, mas eu não quero saber, não consigo absorver nada agora, ta doendo de verdade, muito.
Odeio quando isso acontece, você fica com medo de se envolver, e quando você decide se arriscar quebra a cara. Não importa saber que o tempo passa, que você supera, que você esquece, porque isso não muda a dor que você sente.
E sabe o que eu mais odeio? É ter que ouvir o quanto a gente é boa, inteligente, especial, entre outras qualidades que as pessoas repetem incansavelmente, para dizer que a outra pessoa não nos merece.
Então farei um desejo para qualquer santo, ou estrela cadente que me aparecer, quero ser menos boa, menos inteligente, menos especial, entre outras qualidades para que me mereçam. Porque não me adianta ser nada se quem acaba sozinha sou eu.
Não quero me apegar aos meus livros, amigos, nem nada que me distraia, não há musica, nem remédio que faça essa vontade de arrancar fora o coração e por uma pedra no lugar, suma.
Eu quero meus abraços de volta, meus beijos, meus sorrisos, não quero me acostumar com essa idéia de não te ter mais, quero as faltas de léxico que acho tão bonitinho, quero ficar esperando o falar depois do “deixa eu te falar nat” , só quero isso de volta.
Não quero o amor de Hollywood. Quero sentir medo e saber exatamente para quem ligar, quero falar de qualquer assunto sem ser chata, eu só queria você comigo.
Quantas vezes eu olhei para telefone e quis ligar, para falar nada, só ouvir a voz que não sai da minha cabeça. Ah! As fotos são as minhas piores inimigas, me remetem lembranças que me doem mais porque me fazem tão bem, e por isso acabam comigo.
Não consigo parar de me indagar ou procurar um porque, mesmo já o conhecendo. É como se as idéias ou o coração não permitissem que eu me apegue a uma verdade. E a única coisa que repete na minha cabeça é o quanto eu queria que ele voltasse para mim.
Mas agora é agonizar até que o tempo se encarregue de curar essa ferida que sangra, dói e me faz chorar. Enquanto espero um milagre talvez, vou fazer da minha dor o meu abrigo. Porque as pessoas vão sempre nos magoar, mas eu tenho o direito de escolher por quem vale a pena sofrer. E quer saber? Acho que por ele vale muito a pena.
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Incômodo


Eu não gosto quando as pessoas ficam me olhando. Que chato isso. Não posso nem andar na rua. Não to bonita hoje. Que ódio! Não é que eu não goste, mas não to feliz hoje. Não posso nem andar na rua. Eu gosto dessa praça, me dá uma paz. Buzina. Que, que é isso hein?!. Idiota. Não posso nem ficar a sóis com meus pensamentos. Que frio na barriga. Esses pensamentos, é melhor esquecer, não gosto desses dias que não consigo parar de pensar em uma coisa, em uma pessoa. Sai da minha cabeça, sai da minha barriga. Fica uma dorzinha no estômago, nem dá vontade de comer. Odeio isso. Que cheiro bom! Churros! Quero um. Não, é melhor não comer, engorda. To atrasada também , só vivo atrasada. Tenho que acordar mais cedo. Nunca acordo mais cedo. Que sono ainda, quero voltar para casa. Podia estar escrevendo essas coisas. Droga não li o livro! Nem o conto! Li uma parte, acho que vai dar para entender.
Que casal bonito de velhinhos, quero ficar assim. Casar? Não nem pensar. Loucura. Lá vem ele de novo para minha cabeça. Que cheiro bom ele tinha, adoro quando ele me abraça, quando sorri para mim. Pára de pensar, é melhor não pensar. Troço chato. Nem gosto dele mesmo. Não posso gostar não. Apaixonada. Isso faz mal, eu não sou assim. Sou segura, quero isso não, e depois que gosta já era, é ciuminho para cá, tristezinha para lá, eu não. Não nasci para isso. Não tenho paciência. Mas não é que eu to com uma saudade, é bom ficar perto dele, me faz tão bem.
Faz nada, é carência isso. Nem vou ligar, nem to ligando. Ele nem telefonou para mim. Mas eu nem me importo mesmo. Será que não gosta de mim? Eu não sou insegura, quem perde não sou eu mesmo. Mas não quero perdê-lo. Odeio gente insegura, Aí!aí! para cá , Aí! Aí! para lá, não gosto disso. Nossa que mulher mal educada, não o lha para onde anda, esbarra nos outros e nem pede desculpas. Vou trabalhar, isso vai me distrair. Eu ansiosa por causa de homem, nem pensar. Mas bem que ele podia me ver hoje.

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Aderindo ao estilo de Patricia Melo em "O Matador"
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Boa sorte!


Saí em baixo daquela chuva. O dia estava quente, mas como surpreender é coisa que o clima adora fazer, por pura inconstância de seus sentimentos, despencou as lágrimas àquela tarde.

Desci a rua agraciado e atormentado pelas gotas que de tão espessas formavam onomatopéias no toque da superfície negra do guarda-chuva. Caminhei até o encontro do meu transporte. O que fiz ou pensei nesse caminho não interessa realmente, já que o que quero realçar é o acontecido dentre meu motorista coletivo e meu estado indiferente no último assento.

Como aprendi muito cedo, parei no ponto de ônibus, estendi meu braço por diversas vezes clamando a mera atenção dos condutores, acho que até fortaleci o bíceps. Me enchi de satisfação ao ver um deles parar e abrir a porta. Não se sente encantado quando, após um dia inteiro de trabalho e um caminho cansativo, o barulhinho de espirro da porta do coletivo a dentre seus ouvidos ao se abrir?

Mas o que venho contar é a situação que se deu posteriormente.

Ao entrar logo cumprimentei o motorista com um: _ Boa noite! Pobre coitado sentado e chacoalhando por horas sem receber, se quer, um obrigado por transportar vidas com segurança. A cobradora, um tanto ranzinza, não respondeu minha saudação e ainda retrucou: _ Acha que tenho tanto troco assim? E era apenas uma nota de vinte.

Claro que me contive em respondê-la como se manda o figurino do senso comum.

_ Passo e procuro se tenho trocado.

Ela tinha a cara marcada, pelo tempo ou pela profissão, como a fusão da borracha pneumática para evitar derrapamento do veículo. Talvez por isso o atrito facilitado com os passageiros.

Paguei e fui buscar o conforto do meu cantinho provisório. A dúvida me dominou, já que opções não faltavam. Cruzei toda sua extensão e me aconcheguei no último banco, do último canto, no lado esquerdo. O lado não tem muita influência mas será referencial.

Administrando minha solidão, conciliada à música nos ouvidos oferecida pela tecnologia e o frio que se precipitava do ar-condicionado, me apareceu a devida inquietação.

Pobre moça, jovem e atordoada. Jogou a mochila no último banco, do último canto, do lado direito, e começou uma cruzada com os pertences. Retirou de casaco à livro da bolsa, até desistir após se ver vencida pela correria cotidiana que afeta a memória e nos faz deixar perder-se coisas como, no caso, a carteira.

Seu rubor nas bochechas , as mordiscadas nos lábios e a movimentação do corpo deixavam-me incomodado. Não queria essa tormenta compartilhada, estava no meu canto, o último, do lado esquerdo. Mas fui obrigado a participar da situação e ouvi o telefonema que fez:

_Mãe! Esqueci a carteira, vê se está aí... – quase chorava – Já passei, como vou pagar?

Eu poderia ter me contido e me retraído, mas não, movido pelo sentimento de compartilhamento, não digo solidariedade porque não foi pena, foi simples premonição. Já acostumado com os devaneios de meus neurônios confusos, sabia que o mesmo haveria, algum dia, de me acontecer.

_ Moça! Se quiser lhe empresto o dinheiro.

_ Ah! Você faria isso? Eu lhe pago depois.

_ Não precisa. Ninguém morre por causa de R$ 2,40. – Essa minha afirmação pode ser contraditória com a realidade, mas foi a hipérbole que me veio instantaneamente.

Ela insistiu por um tempo em devolver, mas não pretendia ter outro inconveniente por tão pouca moeda.

Logo a frente meu destino se apresentou, e ao descer ouvi:

_ Obrigada! Boa sorte!

Não sei nem o nome da criatura.

Ao atravessar a rua, meus devaneios neurais já estavam em atividade e por um segundo não fui desmembrado por um piloto a lá “coelho da Alice no país das maravilhas”.

Chegando ao outro lado da rua com braços e pernas integrados ao corpo, o funcionamento encefálico foi eficiente:

_ Ah! Se não fosse aquele “Boa sorte!”.

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Ah! Conhecimento estarrecedor que o tempo traz. Inquietações II (ensaios)


De repente me deu uma vontade de confessar, tudo, por meio de palavras.
Não pense que, porque usei a palavra confessar que é algo ruim ou errado. Não, pelo contrário.
Pela primeira vez senti uma inquietação por algo bom, talvez por saudade ou por simples mudança.
Todo mundo deixa coisas para atrás que sempre gostou, e mesmo sabendo disso vai se achando vanguardista de mais para voltar e experimentar, novamente, o sabor do conhecido.
Sabe aquelas coisas que te davam um prazer incomensurável, mas que eram tão singelas e desprezadas agora pelo conhecimento, maturidade ou pura hipocrizia?
Acordei sentido falta daquela felicidade. Felicidade desinteressada, natural, que acontecia nas tardes de chuva quando a mãe gritava:_ Sai da chuva!Vai ficar doente!
E a gente colocava com toda a graça que tinha a lingua para fora, as mãos como asas nas bochechas e presentiávamos a mamãe com uma bela careta.
Os escorregões na lama por causa da chuva, o choro por causa dos arranhões, o colo bronqueado por causa do aviso.
Ah! Que saudade disso!
Saudade da bagunça com as crianças, fazer algo errado e divertido, sentir por sentir, sem preceber que isso é felicidade.
Ah! Ignorância divina da infância. Ah! Conhecimento estarrecedor que o tempo traz.
As mães moldam os filhos para serem pequenos adultos hoje em dia.
Que tristeza por isso.
Não vejo um adulto que se junte a uma criança no meio da loja de brinquedos quando ela senta no chão só para futucar alguma coisa. Ninguém tem tempo de admirar esses momentos. Estamos todos muito ocupados. Não se tem mais tempo de aprender com quem mais sabe de felicidade, aquele não corrompido pela pulsão do consumismo, do dinheiro e do poder.
Ah! Conhecimento estarrecedor que o tempo traz.
Só desejo a todos nós um pouquinho dessa inquietação.
Não digo que crescer é ruim. Como poderia dizê-lo?
Crescer é aventurar-se pelo desconhecido, sem crescer não desfrutariamos da infância. Mas afirmo, com toda certeza, que não pretendo deixar que ela escorra entre meus dedos que tentam segurar o tempo e as espectativas.
Quando virgens dessa moldura social, vemos melhor, somos melhores. E se é a bagunça divertida dessa fase característica marcante, desejo muita bagunça nessa vida.
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Dizeres


Me diga como viver assim, estar longe e não sentir.
Me diga como arder sem doer, como comer sem se encher, como viver sem sofrer.
Me diga como fugir sem mentir, como acordar sem dormir, como surgir sem sumir.
Quero uma ilha também, sem ninguém, longe e aquém.
Perto para ouvir, ler e viver.
Longe para ignorar, desdenhar e desiludir.
Com a constante inconstâcia das ideias e do mar...

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Não tenho tido muito tempo para escrever...peço perdão a todos por ainda não ter terminado o sequestro...mas estou tentando parar para escrever.

Meu autor/filosofo favorito...
Valeu pela inspiração
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Maravilhoso


Ah! Que saudade de você...
Saudade de seus desvaneios, da arte empregnada em suas curvas, dos caminhos descobertos através de suas linhas.
Como é bom encontrar-te novamente, saborear teu gosto de mecher com os sentidos. Ouvir teus cochichos surpreendentes em meu ouvido, fazendo com que minha pele se torne viva e se mostre interessada em sentir.
Eu preciso de teus amigos, aqueles que tu me apresentas no meio da madrugada, que me perturbam e me dominam de informações. Preciso das tuas histórias que me confundem em mundos que eu nem conheço.
Não vá embora novamente, não me deixe no escuro, vazia.
Sinta-se livre para voar, mas volte, e volte mais forte.
Posso não ter mais nada, mas preciso de você...
Minha maravilhosa arte de escrever!
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Desabafo


Olho para o celular várias vezes.


Parece que ouvir tocar.


Meus próprios ouvidos me enganam.


Nesse reflexo sonoro inexistente reparo que ainda estou pensando em você.


Talvez porque eu não tenha o costume de esquecer ou por simples carência. Ainda não sei, to decidindo.


A verdade que eu ainda espero. Mesmo depois de tudo, mesmo depois das decisões, do afastamento quase que definitivo, das vidas desenlaçadas, das escolhas separadas, ainda espero.


Só espero porque não me enchi de outra coisa, ainda está você no meu vazio.


O tempo pára enquanto eu reflito, e isso não é bom, porque ao pedir para esquecer, lembro. E vindo a lembrança saio correndo dela, mas não importa para onde eu fuja ainda estarei em mim e assim sendo estarás aqui.


Mas nem as palavras me querem ouvir, então as deixo ir.

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Pessoal


Enquanto Bob Dylan sussurra em meus ouvidos, embora eu não preste atenção nele, sinto sua melodia me despertar dores em lugares que sequer conhecia, e isso me faz lembrar palavras sábias: _ Escreve que melhora!

Acatando, quase como uma ordem, me atenho a escrever essas meras palavras cheias de querer e intenções, no entanto vazias de vontade e expectativas.

Não sei bem se quero que essas palavras registrem alguma coisa, mas elas me são agora como lágrimas que a gente joga fora só para ver se com elas toda nossa confusão se esvai.

Sinto correr uma incerteza por todo meu corpo. É como se os sentidos estivessem confusos sem saber, sequer, se existem.

Me pego parada olhando para o nada, pensando em nada, estagnada. Vai saber por quê?

Até sei, mas prefiro tentar ignorar. Por mais que ignorar não mude nada, nem me faça algum bem. E mesmo tentando não ignoro, então esqueçamos essa coisa de ignorar.

Vamos encarar. Encarar pode ser bom, pode mudar as coisas ou não, mas é mais corajoso e arriscado. É a atitude mais favorável, que me deixa até vunerável, e que provoca maior desilusão. É não sei não, acho que encarar nem sempre é bom.

O esquecimento pode ser ótima opção. Você esquece, apaga, não existe mais, ponto final...É mas não adianta ditar que isso aconteça porque nem o que se quer esquecer a gente esquece, ainda mais o que não se quer. Como esquecer o que é bom de lembrar?

Lembrar, verbo que não me sai da cabeça. Imagens, sons,cheiros. Presente, passado e futuro passam nas idéias como lembranças vividas ou idealizadas, que provocam aquele sorriso gostoso de satisfação. Contudo os assombros, as desesperanças e as dores também são lembradas. É lembrar pode piorar.

Então o que posso fazer?

Esperar...pode ser. Agente se acomoda, fica confortável, inerte. Não precisa lutar nem fazer por onde. Se transforma em expectador e vê passar o que for. Não faz diferença, não infecta, nem confunde. Não quero esperar também.

Enquanto fico preocupada em saber o que fazer, esqueço o que quero.

Eu quero ignorar as coisas ruins, a saudade e os empecilhos. Quero encarar problemas, mudanças e frustrações. Esquecer os outros e lembrar de um, apenas um. Mas principalmente eu quero esperar... as noticias do dia, as conquistas, os abraços e os beijos, os olhos conectados, o corpo confortável, o futuro inevitável.

Depois desses caracteres lacrimais, posso dizer mais um pouco apenas.

Se arriscar é a melhor maneira de descobrir que quebrar a cara nem sempre é ruim, pode ser que a mesma pessoa que te fez despencar cuide de seus ferimentos.

Expectativas criam frustrações, frustrações nos movem, o movimento produz desejos, desejar é metade do caminho para alcançar o que se quer.

E finalmente...Não importa o que aconteça em sua vida, tudo pode se repetir, só cabe a você decidir aonde vai assistir a reprise.

“A única maneira de se livrar da tentação é ceder a ela.” (Oscar Wilde)

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De um lado para o outro


Mudar pode ser positivo.
Trazer à vida um novo motivo
de ver tudo de um jeito novo
vendo outra vez o mesmo povo.
Continuando no mesmo chão,
ou tudo melhor só na imaginação.
Trilhando o mesmo caminho,
mesmo que seja sempre sozinho.
Pode ser mudança de opinião
ou apenas de estação.
Só não se pode perder na mudança
o encantamento do novo
aprendido quando criança.
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Sequestro ( Parte II - Eduardo/1)


A mudança era desgastante. Embrulhar em jornal, encaixotar as coisas, transportar, desfazer as caixas, arrumar a casa nova. Até que eu estava gostando.
O apartamento era muito bom, o entorno era movimentado, havia bares por perto, academias, padarias, mercadinhos, tudo ao alcance. Perfeito.
E agora já tinha até uma história para contar. No dia em que mudei, salvei uma mulher de ser atropelada, que por acaso era muito bonita. Mas não foi só isso. Enquanto subia varias vezes para levar a mudança, tive o encontro da minha vida no elevador.
Era a ultima caixa, estava segurando-a entre os braços, quando, pouco antes da porta do elevador se fechar, vi a mulher mais linda do mundo. Era mais baixa do que eu, tinha cabelos que ondulavam como as ondas do mar e tinham a cor do chocolate mais saboroso que se possa imaginar. Tinha olhos misteriosos e escuros como breu, mas quebrava qualquer densidade com seu sorriso acolhedor.
_ Oi! Vai mudar pro sétimo?
_ Vou sim.
_ Quer ajuda?
_ Não obrigado, tá tudo bem. Além do mais não fica legal pedir ajuda a uma mulher quando se tem apenas uma caixa nas mãos.
Ela sorriu com um ar de desaprovação.
_ Acredita mesmo nisso? Não tem mais essa não.
_ Não! Não acredito, não. Foi brincadeira.
Como eu estava sendo idiota, porque havia feito aquele comentário completamente desnecessário. Ela se calou. Eu tinha que puxar um assunto antes que ela saísse ou o sétimo chegasse.
_ Qual seu nome?
_ Lara, e o seu?
_ Edu. Eduardo, mas chama de Edu.
_ A sim, pode deixar.
Droga! Acabou o assunto de novo. Tenho que ler mais, cadê meu vocabulário, ou será que ela está me deixando nervoso?
_É...
_ Vou descer aqui. Moro em baixo do seu apartamento, se precisar de alguma coisa é só falar. Prazer
_ Eu falo. Prazer também.
Encantamento era o que definia o que eu sentia agora. Passava pela minha cabeça toda a conversa do elevador, palavra por palavra dezenas de vezes.
Arrumei as coisas no apartamento, planejei o que tinha de fazer e fui dormir.
No dia seguinte retomei minhas atividades, trabalhei, aproveitei para me matricular na academia, até entrei em um curso de violão. Adorava aquele lugar, tudo era perto, podia ir andando para o trabalho, academia, curso. Sem contar a praça que findava a extensão da rua. Ótimo lugar para descansar, sentar e ler.
Depois de me estabilizar, criei um objetivo: conquistaria Lara.
O açúcar começou a faltar na minha casa, o café também, o arroz, o feijão, o sabonete, a pasta de dentes, pedia sempre alguma coisa a ela. Até me indagar:
_ Você está com problemas financeiros ou só quer arrumar uma desculpa para falar comigo?
A principio me choquei, não esperava essa situação.
_ É desculpa. Queria ter algum motivo pra vir até você.
Ela gargalhou:
_ É tão mais fácil você me convidar para sair, do que ficar acabando com minha dispensa.
Como ela era incrível. Eu cheio de receios, por culpa da meiguice que demonstrava e ela cheia de atitude.
_ Ok! Quando posso levar você pra jantar?
_ Jantar? Não pode...
Queria me esconder debaixo do capacho em frente à porta assim que as palavras dela entraram em meus ouvidos.
_ ...Vamos a um lugar que eu adoro. É uma bar com musica ao vivo, tem um clima muito legal, alem de apresentações de textos dramatizados. Tem um sebo embaixo, podemos sentar lá, ver uns livros, uns discos, cds...e depois subir pro bar, ouvir boa música, beber um pouco. O que acha?
Definitivamente era a mulher mais encantadora que eu havia conhecido. A vontade de me esconder fugiu correndo.
_ Claro!Quando podemos ir?
Ela titubeou um pouco, disse que a agenda estava meio conturbada por culpa do trabalho, mas que assim que ela acabasse o livro que estava escrevendo agente marcaria.
Eu confesso que murchei um pouco, mas sabia que valia a pena esperar.
Continuei minha rotina, mas sempre que sentia vontade de vê-la batia na porta dela, sentávamos na escadaria de incêndio e ficávamos conversando pela madrugada adentro.
Até que numa noite voltando da academia, ao estacionar, senti uma pancada na cabeça, e quando acordei, ainda meio zonzo, estava amarrado em uma cama. Pensei logo que havia sido seqüestrado, que iam me matar. Tentei fazer força para me soltar, mas estava muito bem amarrado. Tentei gritar, mas tinha uma fita em minha boca. Assim que resolvi esperar para ver o que viria a acontecer, comecei a reparar que estava num quarto muito bonito, de mulher com certeza, tinha um cheiro bom de baunilha, a cama era macia e tudo estava muito limpo. Foi quando uma mulher, vestida com um robbie preto quase transparente, de cabelos ruivos e olhos azuis entrou no quarto e começou a falar. Realmente não prestei atenção em nada do que estava dizendo, fiquei prezo ao movimento que o tecido fazia tocando sua pele alva, enquanto ela andava pelo quarto.
Passava por minha cabeça agora que meus amigos haviam planejado tudo, aqueles sem vergonhas. Ela sentou do meu lado na cama e consegui ver seu rosto claramente. Era alguém que eu conhecia. Será que ela trabalhava como...Não tinha cara, nem jeito. Foi então que comecei a ouvi-la.
_ Desculpa eu ter feito isso com você. Mas eu queria muito uma chance de te conhecer, sei lá, de termos alguma coisa...
Eu queria dizer que existiam modos mais fáceis mas ela não tirava a fita.
_Eu gosto de você desde a primeira vez que nos vimos, quando me salvou de ser atropelada. Lembra?
Agora eu lembrava, sabia que eu a conhecia da li, mas não sabia por quê. Agora estava bem claro. Ela ficou falando por muito tempo. Contou tudo que eu fazia, todas as vezes que eu havia lhe dito – Bom dia!, tudo o que sabia sobre mim. Estava me sentindo um ídolo adolescente capturado por uma fã. Já não agüentava mais a ouvir falar, quando as coisas começaram a ficar interessantes.
Ela tirou o robbie e eu pude ver seus seios torneados, sua cintura esculpida, sua pele branca e seus olhos me desejando ardentemente.
Sentou sobre meu corpo amarrado, aproximou-se do meu rosto, tirou a fita que fechava meus lábios lentamente e quando ameacei a falar alguma coisa colocou seu dedo frio sobre meus lábios como sinal de silêncio – Shiii!, calei-me imediatamente, e sentindo seus cachos rubros tocarem minha pele, degustei seu beijo como se provasse de uma fruta fresca. Se apossando do meu corpo tirou minha roupa desamarrando membro por membro e amarando-os novamente. Quis pedir para que me deixasse desamarrado, mas me contive. Saboreando meus contornos com seus lábios quentes me provava cada vez mais que deveria ficar quieto. Encaixou-se em mim, se satisfez de prazer como se estivesse exilada por muitos anos, distanciada de seus próprios desejos.
Deitou-se ao meu lado, abraçou-me e sem dizer uma palavra adormeceu. Ainda incomodado por estar amarrado, fingi o conforto e dormi também.

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Edu fala de mais! Então dividi a parte dele em duas.
“Seqüestro idéias, seqüestro vidas, seqüestro atenção, seqüestro até coração.”

“Devemos ler para oferecer à nossa alma a oportunidade da luxúria.”(Henry Miller)
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Inverno ( Haikai - Oficina Autores )


Estando feliz
Amor, tire-me o ardor
dessa tarde griz.
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Este é um poema de forma fixa, 1º Verso: Pentessílabo, 2º Verso: Heptassílabo, 3º Verso: Pentassílabo ( 17 Sílabas Métricas), com rima leonina.
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Sequestro ( I Parte - Elisa )


Eu tinha tudo. Um trabalho maravilhoso, um salário altíssimo, um apartamento lindo e grande, duas graduações e uma pós aos 28 anos, um carro novo, uma vida que qualquer um invejaria.
Acordava todos os dias as seis da manhã, chegava ao trabalho as sete e lá permanecia até as dezoito, dezenove...para que eu voltaria para casa com pressa, alimentar o gato, ou ver TV, ou terminar um livro. Era isso que me esperava todos os dias, alguns livros para terminar de ler. Nenhum abraço, nenhum boa noite, nenhum sorriso.
Muitas vezes parava para tomar um café na cafeteria da esquina só para conversar com a balconista, só para conversar com alguém. Sempre quis ser forte diante dos outros e não deixava transparecer minha solidão, sorria e parecia estar feliz sempre. Uma vez me disseram que se você parece estar feliz é meio caminho andado para estar realmente, mas não estava fazendo muita diferença.
Ao chegar em casa, como um ritual diário, sentava numa poltrona individual aconchegante e quentinha diante da janela da sala, escolhia um livro para ler durante a semana, e destrinchava a história fosse drama, terror, suspense, amor, comédia, ou outro tema que me driblasse a atenção. Contudo hoje a visão que eu tinha da janela mudara. Via sempre a sala no apartamento vazio do outro lado da rua na altura do meu andar, o sétimo, que sempre me lembrava o quanto sozinha eu estava. Então vi uma luz naquela sombria sala acompanhante de minhas leituras. Vi dois homens andando pelo apartamento, me desprendi do livro e fiquei a observá-los. Reparei que um mostrava os cômodos como se fosse um vendedor e o outro sorria como se estivesse satisfeito de conhecer o que possivelmente seria sua futura casa. Fiquei a olhá-los até que fossem embora. Voltei a ler e adormeci ali mesmo.
Acordei com o sol em meu rosto, havia perdido a hora, logo eu que que sempre fui tão pontual. Me arrumei correndo, peguei as coisas que precisava e meio desnorteada desci à garagem, joguei tudo dentro do carro, tentei ligar mas não queria pegar de jeito nenhum, já passava pela minha cabeça estrangular alguém que passasse pelo meu caminho e falasse alguma piadinha tipo: _ Não tá pegando? É só girar a chave! – odiava essas coisas idiotas.
Juntei tudo que havia espalhado pelo carro e fui pegar um táxi. Corri para fora e quando visualizei um táxi vindo saí desvairada para o outro lado da rua sem olhar para atravessar. Num rápido estalo me vi jogada na calçada com um homem sobre mim e todas as minhas coisas esparramadas no chão.
_ Deixe que eu te ajudo a levantar moça. Tem que tomar cuidado ao atravessar, podia ter morrido.
Enquanto ele falava eu não conseguia acreditar no que meus olhos viam. Era um anjo? Não. Um deus? Não. Era o cara que vi no apartamento ontem.
_ É que eu estou muito atrasada para o trabalho, adormeci lendo ontem e perdi a hora.
_ É perde a hora, perde a vida. Assim você vai bem! – sorriu.
Além de lindo era engraçado. Acho que por isso nem senti o corte no meu joelho que sangrava escorrendo pela minha perna.
_ Você precisa fazer um curativo aí. Vá a um hospital, só pra ver se está tudo bem. Já está atrasada mesmo, falta de uma vez.
Como eu não pensara nisso, ele era um gênio. Podia ir comigo e depois passar no cartório e casarmos.
_ É vou fazer isso. Obrigado por me salvar. Qual seu nome?
_ Eduardo, mas costumam me chamar de Edu.
_ Prazer Edu. Sou Elisa.
_ Desculpe Elisa, mas tenho que ir. Já salvei uma dama e preciso cuidar da mudança do herói. Me mudei hoje para o sétimo desse prédio – Sorria sempre ao falar.
Não queria que ele fosse, e a idéia do casório foi para o “buraco”.
_ Eu moro no sétimo do da frente. Boa mudança pra você. Outro dia agente se esbarra.
_ Espero que não seja com risco de vida.
Sorrimos e nos despedimos.
Durante semanas, meses, saia do trabalho apressadamente só para sentar na janela e observar o que ele fazia. Deixava minha luz apagada para ele não perceber e me deleitava assistindo ele viver. Comprei até um telescópio para ver mais de perto. Era tão bom voltar para casa e vê-lo. Meus dias estavam tão mais coloridos.
Reparava nos seus horários só para cruzar com ele e falar pelo menos bom dia. Já estava dependente dele, se ele saísse ficava acordada até ele voltar, não dormia sem que desejasse boa noite da minha janela.
Queria ele por perto, mas sempre que falávamos era simpático, porem nunca me demonstrava interesse, devia ser tímido sabe lá. Eu tomaria uma atitude.
O esperei chegar da academia. Ele ia todos os dias, saia as vinte e uma e retornava as vinte duas e meia, me escondi no estacionamento e assim que trancou a porta do carro, segurei com força a chave de roda que tinha na mão e bati rapidamente em sua nuca. Arrastei-o até meu carro, sai da garagem dele para a minha, subi pelo elevador de serviço e o coloquei amarrado à cama.
Pulsos e tornozelos atados em meu leito...

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Esse texto é uma seqüência. Ainda virão mais três partes e surgiram mais alguns personagens.
Esse seqüestro ainda vai se desenrolar. Torça por quem mais gostar!
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Relações não compartilhadas (Trab p/ Oficina Autores)


Ainda desnorteado, pegou a primeira garrafa de bebida que viu pela casa e entornou seu conteúdo pela garganta a dentro. Dentre as lágrimas e os goles gritava pela casa:
_Não acredito!!Não é possível!!Como isso dói!!
Em sua cabeça se repetia sem interrupção a cena: “Ela linda e sorridente e ele tolo se declarando”. Como podia imaginar que ela lhe daria um não tão gracioso que nem odiá-la conseguiria, e agora teria que conviver com ela e com o não.
Bebia como se cada gota de álcool fosse amenizar a dor que sentia, mas cada gota ingerida saia por seus olhos, pois quando pensava que ia parar com o choro, ele se intensificava.
Queria fugir, viajar, sei lá! Qualquer coisa para esquecer tudo e ela.
Num estalo de pensamentos, veio a idéia de ligar para alguém que de ouvidos dispusesse para agüentar suas lamentações. O engraçado que a primeira pessoa que se lembrou foi a amiga, que outrora tinha recebido um não como o dele, mas que o dono do não era ele.
Ligou mesmo assim, tinha certeza que ela o ouviria.
_Alô! Sara?
_Oi, Di! Sabe que horas são? 03:45 da manhã! Tá tudo bem?
_ Não – soluçava -, acho que vou cometer uma loucura a qualquer momento, preciso de você!
Ela que sempre sonhara ouvir dele “preciso de você”, não gostou nada de tê-lo ouvido desse jeito, mas como nunca conseguira deixar de amá-lo, rapidamente pegou o carro e foi até ele. Logo que chegou viu a porta entre aberta, pensou no pior, correu para dentro chamando:
_Di!Di! Cadê você?
Se deparou com seu amigo ou amado (precisava se decidir) deitado no sofá com uma garrafa de vodka na mão e lágrimas escorrendo dos olhos.
Queria brigar, gritar, chamá-lo de idiota, mas não conseguiu.
Abaixou-se suavemente ao lado do sofá, e enchendo de lágrimas os olhos disse:
_ Por que está fazendo isso com você? Não importa o que aconteceu, não se maltrata desse jeito.
Olhando para o rosto sereno de Sara, fitou os olhos mareados dela e disse:
_ Tá doendo. Muito.
E contou tudo o que havia ocorrido naquela noite. Sara esboçou um sorriso no canto da boca.
_ Eu sei que dói. Sei que dói muito. É difícil acreditar quando alguém fala que sabe como agente se sente. Mas sei como é se sentir a pessoa mais insignificante do mundo, e aí quando você quer odiar quem te fez se sentir assim não consegue, no máximo fica decepcionado e jura não gostar mais, contudo quando essa mesma pessoa faz alguma coisa de bom, te reconquista e você esquece tudo de ruim que você sentiu, até a dor.
As lágrimas pararam assim que ela terminou de falar. Pensou o quanto egoísta estava sendo, sempre soube que ela gostava dele, e agora se aproveitara disso para amenizar sua dor. Como podia ser tão insensível?
_ Sara me desculpa. Sempre soube que você gostava de mim, e mesmo assim, hoje, a única pessoa que eu chamo para compartilhar disso é você. Devo estar te fazendo mal.
Ela sentiu uma vontade de chorar subindo por sua garganta, mas a engoliu. Respirou fundo e disse:
_Fazendo mal? É está! Mas sabe de uma coisa? Posso amá-lo ainda, porém aprendi que me amo mais que a você. E que mesmo que eu chore por isso, quando a ultima lágrima cair não terá mais volta.
Ela abriu um lindo e suave sorriso. Ele sentiu um nó na garganta. Ela continuou:
_ Vai acontecer o mesmo com você, uma hora passa.
Num impulso segurou a cabeça da amiga e a beijou, ela correspondeu ao beijo. Ele ouviu sinos e sentiu um frio na barriga...

Aqui faço um corte. Quero dar dois finais a essa história. Um para uma amiga que precisa de finais felizes e o outro para mim.

1º -... Ela, que nunca o beijara antes, só confirmara que não era amigo, sim amado.
Di nunca mais precisou chorar ou sentir dor, Sara o curara desse mal.

2º - ...Ela derramou sua ultima lágrima.
Levantou e andou até a porta, olhou para ele e disse:
_ Não tem mais volta.
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Imaginação (Miniconto)


As vezes eu me perco no mundo por causa dela, mas se não a tivesse seria um pouco mais triste.
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Despertar (Oficina de Minicontos)


Esperando debaixo das cobertas, fingia dormir o menino.
Silêncio!
Era a Hora.
Rapidamente pegou a chave do carro do pai e saiu.
Dirigiu a noite toda. Conheceu animais ferozes, planetas distantes, castelos e reis.
Voltou para casa encantado.
Num piscar de olhos viu seu pai na porta do quarto.
_ Boa noite filho. Da proxima vez espere eu chegar para adormecer.
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Retrato


E assim olhava para o mundo
Tudo era feito de luz
Possui o dom de mudar um segundo
Juntando tudo ao que reduz.

Vive da alegria alheia
Sonha com um final feliz
Faz da bonita feia
Mudando de cena a atriz.

Sorri sem medida alguma
A fraco o forte conduz
Toca o coração como pluma
Aliviando de cada um sua cruz.

Fortaleza segura desfaz
Com os olhos demonstra o que vem
Da tristeza beleza traz
Para mostrar que seu forte é o bem.

Da lágrima tira sustento
Da dor faz inspiração
A vida enche de fermento
Para crescer nesse mundo vão.

É criança que repousa alegre
Debruçada em cima do livro
Sem martelo a idéia pregue
Na parede do seu abrigo.

As idéias não dizem a idade
_É sabida! diz a Maria
Traz virtude na maturidade
O que esconde é sabedoria.

Pelos olhos vejo o efêmero
Só queria tê-los por perto
Da imagem tirar o que quero
Em retrato torná-lo perpétuo.
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Sensualidade


Era noite, umas 18 ou 19 horas, e ao sair do trabalho lembrei que precisava comprar umas cuecas novas. Mesmo morando sozinho minha mãe sempre me inspecionava e nesse final de semana jogara fora todas as minhas cuecas, disse que estavam ruins, velhas, eu não vi nada disso. Então me dirigi à uma dessas lojas de departamentos, lá com certeza teria alguma coisa.
Andei um pouco pela loja, não estava encontrando onde ficavam as cuecas, meias, essas coisas. Logo que as vi fui rapidamente pegar as que estavam mais perto (Vai saber por que tenho vergonha de comprar cuecas!), assim que peguei um daqueles pacotes que vem com cinco por um preço só, vi diante de meus olhos a mulher mais linda do mundo. Fiquei inerte! Ela olhava lindas e “sexys” lingeries, mexia nos cabelos ondulados e escuros, via modelos diferentes, andava passos fortes.
Sabe essas mulheres que você passa por uma pela rua e pensa que nunca poderia ter uma dessas porque ou ela o acharia burro porque é mais inteligente que você, ou te acharia feio porque ela é linda, ou inseguro porque ela forte, ou criança porque ela madura, ou qualquer defeito porque ela é perfeita.
Foi então que ela me olhou de repente e com aqueles olhos penetrantes e misteriosos e me pergutou:
_Qual você acha mais sexy a preta com rosa ou a branca com vermelho?
Acabara de me fazer imaginá-la com as duas. Realmente não tinha qual não ficasse sexy nela, o que importava é que ela estivesse vestindo.
Foi aí que me dei conta do que havia dito a ela:
_Se você estiver vestindo, qualquer uma!
Enquanto me preparava para levar um fora, ela naquela postura de mulher bem resolvida me respondeu:
_Vou levar as duas então!Aliais, gostaria que me desse sua opinião quando eu estiver vestida com elas...me de seu telefone.
Ela nem me perguntou, era uma ordem, que eu atendi prontamente. Pegou seu celular e anotou o número. Deu-me um tchau insinuante e foi embora.
Pensei que ela não ligaria, mas antes que eu saísse da loja ela ligou e disse que me esperava na entrada.
Estava na fila do caixa, larguei as cuecas e fui rapidamente até a porta...estava lá, encostada na lateral da entrada, me olhava como se fosse me agarrar ali mesmo, ainda desacreditando mantive-me estável e falei:
_Quer ir lá para casa?
Ela nem respondeu, saiu andando na frente, eu fiquei parado pensando ter falado a maior “merda” da minha vida.
_Você me convida e não vem? – disse ela.
Entramos no meu carro, pensei em vários assuntos mas travei, ela parecia nem se importar, olhava o tempo todo pela janela e poucas vezes me perfurava com seus olhares (pude até contar, em todo o caminho foram cinco vezes).
Chegamos ao meu apartamento, ela perguntou onde era o banheiro e eu, ainda sem palavras, apontei.
Não estava acreditando naquilo, eu e aquela mulher deliciosa.
Ela saiu do banheiro só com a lingerie, a preta com rosa, veio andando lentamente ate parar na minha frente, me olhava nos olhos, me fez até tremer, nossa ela me dava medo.
Pegou minha mão e me levou até minha cama, me parou diante da cama e me empurrou, sorria com um ar de maldade cheio de malicia, engatinhou sobre mim, elevou minhas mãos e as segurou sobre minha cabeça, e me beijou.
Os melhores beijos da minha vida!
Arrancou minha blusa.Beijou minha boca, meu pescoço, meu tórax. Arrancou minhas calças. Lembrei-me das cuecas, ainda bem que minha mãe as tinha jogado fora.
Se deleitou do meu corpo como se fosse seu brinquedo.Chupões, mordidas, lambidas, beijos, sexo...
Uma, duas, três... Insaciavelmente me possuía.
Quando acordei, antes de abrir os olhos, pensava: “encontrei a mulher da minha vida, estava apaixonado, casaria em um mês, teria filhos e faria sexo até envelhecer com ela e só ela!!”
O sol entrava pena janela, quando virei para o outro lado da cama com a intenção de abraçá-la, mas meus braços só encontraram um bilhete em cima do travesseiro que dizia:
_Bom dia! A noite foi ótima...
Estava surpreso por ela não estar ali, mas pensei: “ela tinha que chegar cedo ao trabalho”, mas não parou ali:
_ ...mas não fique chateado, foi só S-E-X-O!
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Noite Comum


Estava sentada na cama, me preparando para dormir nessas noites tão frias. Com as pernas entrelaçadas, como qualquer criança sabe fazer, mexia com uma colher meu leite quente com açúcar queimado, coisa para quem esta resfriado.
De repente comecei a prestar atenção naquele barulhinho que a colher fazia ao bater nas paredes de louça da caneca. E daí se desencadeou uma sonoridade tão particular da noite. Ouvia um galo que devia estar com problemas no seu rádio relógio. Ouvi uns gatos uivando, acho que não deveriam estar no seu normal. Algumas vozes bem longe, que mal dava para entender ou diferenciar o sexo de quem falava. Ouvia de vez em quando um veículo passando na estrada um tanto distante. E ali parada - não completamente porque ainda mexia a colher - fiquei tentando ouvir mais distante, e mais distante...
Fazendo isso provoquei pensamentos que estavam adormecidos e que sairam correndo fazer barulho. Lembrei de coisas que já havia me esquecido, até algumas sensações começaram aparecer, comecei a voltar a me sentir uma pessoa pequenininha e triste, e as lágrimas até começaram a tentar florescer.
Foi quando fui interrompida por um barulho.
Era a porta do quarto que por sua idade já faz barulho ao abrir, e quem entrava era só uma pessoa que me ama.
Deixei de ouvir tudo e pude dormir.
Eu pedi obrigada!
Talvez ela nunca entenda porque do agradecimento, mas ela era o que eu precisava lembrar naquele momento.
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Quadro Clinico Atual




Compulsão de escritas sem sentido causa distúrbios do tipo experimentado por mim:
_Causa dependência de um endereço eletrônico, de um diário online e amigos meramente virtuais que qualquer contato sensorial não é estabelecido.
(Jaqueline Gomes)
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Conpartilhamos relações não compartilhadas!
Em sua homenagem minha Antropologa favorita!!
Você resumiu!
Por ter pouco poder de sintese eu te posto aqui!!
Mas estou aprendendo!
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Pequenino


_Ei por que você está sentada aí?
_Nada, não to esperando ninguém , nem pensando em nada, nem planejando o futuro ou lembrando do passado. Só vim ver a vida passar...Quando ela passar eu te chamo!
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Inquietação! (ensaios)


É muito engraçado como agente finge não vê. Na verdade não se finge simplesmente, escolhemos a pasmaceira como a forma mais fácil de enfrentar nossos problemas. O contraditório é que essa escolha é coletiva, juntos decidimos por ela para preservar nosso egoísmo, e como se pode enfrentar alguma coisa, nos conformamos com nossos problemas.
Nossos sim, as questões sociais desse país é problema nosso. Não é um nosso tirando a responsabilidade das autoridades competentes (ou incompetentes?), mas quer dizer que devemos compartilhar dessas responsabilidades.
Nada de dizer que eu votei em fulano ou beltrano, e ele é quem tem que se preocupar. Acha q é assim? É muito fácil ser cidadão quando lhe convém, os direitos são muito bons mas os deveres, ah! esses agente esconde “por debaixo dos panos”.
O que torna mais cômico o fato de sempre estarmos reclamando das roubalheiras “por debaixo dos panos”, mas nunca nos centramos no fato de que quando ignoramos nossos deveres, estamos roubando de quem sequer tem consciência de seu poder como individuo socializado.
Já dizia Jorge Nagel:
“a ignorância reinante é a causa de todas as crises; a educação do povo é a base da organização social...”(década de 30)
Se temos consciência disso há tanto tempo por que ainda ignoramos esse fato?
Para mim só tem um momento esclarecedor dentre toda essa hipocrisia, nós letrados, na condição de consciente, para manter esse status nessa sociedade individualista e egoísta fingimos filantropias e indignações momentâneas, mas não nos engajamos na mudança pois ela não interessa, não é vantajosa.
Me permita Nagel citá-lo novamente, mas não há frase melhor para confirmar minha indignação:
“as oligarquias só podem ser combatidas pelo esclarecimento que a educação proporciona, pois elas se sustentam graças à ignorância popular;...”
Nós submentendo-nos a esse coma que estão nossas idéias infectantes partimos do esclarecimento à ignorância permitindo que esse quadro continue estático em nossas paredes diárias.
O pior disso tudo é que quando o povo se instrui logo quer fazer parte desse aglomerado de indivíduos vazios no meio dessa sociedade inquietante que precisa ser contagiada pela paixão que faz do cidadão nação.
Mas não!! Vamos continuar buscando a classe média, levando vidas médias, sendo medidos como medianos social e intelectualmente. Assim vamos vendo e achando “bonitinho” o pobre receber uma compensação por cada filho estudando:_ Vai todo mês receber um dinheirinho!
Daqui a pouco isso vai ser um negócio lucrativo (se já não é!), por aí vão haver placas anunciando:
_”Produz-se crianças e aceita-se trocar sua educação por dinheiro!”
Quando isso for realidade, como se já não houvessem casos, vamos rir enquanto fazemos piadinhas durante uma conversa entre amigos, fingindo não saber que a culpa também é nossa.
Nem é preciso esperar o futuro, pois é o nosso presente que me envergonha.
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Tudo bem!


Sentada olhando para o nada ainda me sentindo muito triste, senti o sol entrar pela janela e bater suavemente no meu rosto. Eu queria muito naquele momento um abraço, senti-me envolvida de um calor tão bom que até me permiti sorrir.
Talvez fosse sua ausência que me fizera ver o quanto longe de mim eu estava.
Fiquei ali por um tempo esperando sei lá o que, mas descobri que só esperava a mim mesma, por que há tempos não era eu que estava comigo.
Lembrei que nunca me permiti chorar por ninguém, que eu era forte e obstinada, que ainda mudaria o mundo e salvaria vidas.Recordei que eu sempre pude tudo, porque sempre quis fazer os outros felizes, nunca medi esforços para isso.
Então foi que eu reparei que meu sorriso inocente quando via uma criança ou quando ficava feliz em descobrir algo novo já não era o mesmo, fiquei atordoada, _será que eu mudei? Me perguntava.
Refleti um pouco e vi que chorava por alguém, era frágil e perdida. Que nem em meu mundo estava fazendo diferença e que havia matado alguma vida (acho que a minha).
De repente eu reparei que não era uma mudança definitiva, era só um coração palpitante em momentos desnecessários.
Resolvi arrancá-lo fora, com toda força o retirei mas olhei para ele que ainda batia e não pude me livar dele. O coloquei de volta no lugar. Levantei-me e fui até a janela. A abri por completo e me espreguicei com toda força, senti aquela vontade de viver voltando e sorri serenamente.
Sabia que eu mudaria novamente, em breve, eu mudo todos os dias, mas nunca me acostumo com elas, são tão diferentes do que realmente tento ser.
Passei pela sala sem pensar em nada, peguei minha bolsa que estava no sofá e fui embora.
Andei por varias horas voltando a sentir o mundo do jeito que eu gosto de senti-lo, conseguia me animar com as pequenas coisas novamente, por mais que no canto dos olhos as lágrimas se escondiam.
Cheguei a uma praça que nunca havia visto, vi crianças brincando, casais passeando e me dei conta que alguém parara do meu lado, um arrepio subiu fortemente as minhas costas e olhei para o lado e lá estava você o tempo todo. Me seguira e eu nem percebi.
Sentamos num banco e conversamos por horas, rimos, me senti tão feliz.
Foi quando uma bola atingiu meu pé que percebi que você nunca esteve ali.
Eu estava sozinha o tempo todo, e você nunca estaria ali.
De repente comecei a rir sem motivo.
Você poderia nunca estar lá, mas não importava, eu estaria.

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Toda trilha é uma prisão...
Pois escolhemos uma a seguir e não outra...
E assim escolhendo, não importa se queremos voltar, não dá mais...
Nem todas dão no mesmo lugar...

Algumas nunca se crusam...
Outras andam juntas...
Mas se tem-se a liberdade de escolher...
Então eu escolho...
Não seguir nenhumas delas...
Trilharei uma nova!
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Distância


Era madrugada e eu não conseguia dormir. Talvez por sentir que nós estivéssemos distantes, fazia tempo que não conversávamos.
Andei pela casa evitando o acordar, isso não era necessário, por que eu o incomodaria, podia ser que só eu tivesse vendo essa distância e poderia causar uma briga desnecessária. Alias, eu só queria dizer que te amava mais do que nunca e sentia falta da sua presença aqui. Acho que isso soaria estranho, alem do mais você esta sempre aqui, mas não sei o que acontece, mesmo do seu lado sinto a sua falta.
Tomei um banho quente para ver se relaxava e conseguia dormir, deitei do seu lado novamente, virava e revirava e o sono não vinha, meus pensamentos me atordoavam, eu queria lhe acordar e dizer tudo que passava na minha cabeça, então decidi fazê-lo...
Te chamei delicadamente ao ouvido, mas você nem se mexeu. Resolvi dar uns tapinhas em seu braço mas nem balbuciou. Comecei a te balançar suavemente e repetia seu nome ainda baixinho, contudo você nem parecia respirar. Tomei-me de uma força e sacudia seu corpo inerte e gritava: _Acorda!Acorda!Não faz isso comigo!Por favor!
Desesperada sem saber o que fazer chorava e batia em você com uma raiva que baixara em mim por saber que estava te perdendo. Tentei primeiros-socorros, batia em seu peito, sacolejava seu corpo, respirava em sua boca e continuava naquela frieza fúnebre.
Corri até o telefone e aos prantos liguei para emergência, falava tudo confuso, só me lembro que me disseram que chegariam rapidamente.
Sentei ao lado do telefone que ficava na parede oposta à cama, olhava para você no meio dos lençóis amassados com um braço caído para fora da cama e uma expressão serena no rosto. Fiquei ali parada até a emergência chegar. Abri a porta e voltei-me ao canto da parede. Mal consegui responder aos para-médicos. Levaram você e eu nem consegui me mexer. Fiquei ali por horas, dias, até que me arrancaram de lá. Me tiram do canto mas não tiraram o canto de mim.
Não importava onde eu estivesse me sentia acuada pela impotência de não poder te salvar.
Mal dormia, mal comia, mal existia. Não falava com mais ninguém, abandonei a mim. Parava e olhava fixamente para um ponto e ficava ali infinitamente, poderia ficar para sempre, esperando estar com você.
Depois de uns meses a casa de minha mãe, voltei para casa.
Olhava ao redor e nada me interessava, voltei ao quarto e me sentei no meu canto. Lembrei porque tentei te acordar naquela noite, lembrei também que fui tomar banho, que andei pela casa, não queria te acordar, mas seu tivesse tentado te acordar antes poderia estar aqui comigo agora.
Chorava...
No meio da minha solidão e lágrimas, resolvi te dizer o que eu não consegui:
_Só queria ouvir sua voz hoje. Só queria te lembrar que eu te amo. Vou estar aqui sempre com você. Não fique distante de mim.
Não importa onde ele esteja. Ele não está mais aqui!
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Carta Póstuma


Dessa vez eu vou ser bem clara.
Cansei de escrever para você e não receber nada em troca.
Sei que não se deve esperar nada das pessoas, mas eu preciso esperar alguma coisa de você. É o pouco de vida que ainda me resta. Acho que depois dessa carta não restará mais nada.
Eu sei que para você pode parecer que faz pouco tempo que me consumo por ti, mas não é bem assim.
Lembro claramente do dia que te vi pela primeira vez. Era um dia claro de verão, o calor deixava rubra a face de qualquer moça. Como de costume eu fazia graça para as amigas (sabe o quanto valorizo a alegria). Foi quando numa simples expressão automática, virei meu rosto para o lado e me deparei com você. Seu sorriso iluminava mais do que o sol que pairava aquele dia. Como eu poderia esquecer?!Daí em diante procurava aquela sensação todos os dias. Tinha que ver-te!
Eu sei que eu estava errada. Ainda tinha compromisso com outro. Por mais que esse amor antigo já estivesse aos farrapos. Sentia uma certeza, meu coração não pertencia mais a mim, nem mesmo àquele que outrora o conquistara, mas somente a você.
O mais incrível é que esse você não existia, era apenas uma pintura que alegrava meus dias. Mas como se contentar em ser mera expectadora, queria mais.
Mexi e remexi as idéias e por fim consegui te conhecer. Sei que fui intrometida na conversa alheia, mas eu precisava fazer você me notar, ou morreria ali mesmo.
Os dias foram passando, e eu sentia que o meu chão desaparecia, minhas palavras se desordenavam (logo eu que falo pelos cotovelos), o arrepio subia na pele e o coração disparava.
Mas era impossível saber o que se passava com você. Cogitei todas as hipóteses possíveis. Soube de um amor em sua vida, mas que nada fizera diminuir meus sentimentos. Soube de desprezos, que trouxeram lágrimas passageiras.
Mas parecia ser tarde, eu ia embora e jamais chegaria perto de seu coração. A angustia tomou meu peito, eu nem consegui me despedi.
Algum tempo sem te ver, falar, nem saber de você acalmou meu coração. Muitas vezes tentei te procurar, mas dizia a mim mesma que era melhor não fazê-lo. Eu estava certa!
De repente você volta para minha vida, e mesmo não precisando estar presente consegue criar a maior desordem por aqui. Não me pergunte como, eu não sei! Se soubesse já teria dado um jeito.
Sua imprecisão me confunde e me faz fraquejar. Queria poder entender o que não se vê. Mas não dá!
Eu preciso de realidade, preciso ter alguém com quem contar, alguém com quem dividir um pouco da minha loucura e lucidez. Não preciso de um conto de fadas, nem um romance de livro. Só sentir segurança quando eu estiver com medo, levar bronca quando errar, brigar por besteira mesmo, compartilhar incompatibilidades. Viver!
Já nem sei mais o que espero. Na verdade não espero mais nada. E por isso eu lhe escrevo, sem lágrimas nos olhos, pouca dor no coração, por que sei que vai estar aqui sempre, mas a nossa validade ficou invisível a mim.
Agora só quero me despedir, tentei achar um modo mais fácil, mas nem sempre o caminho mais fácil é melhor que o da dor.
Quero que saiba que gosto muito de você, e para onde eu for levarei você comigo. Mas agora não dá mais para continuar assim. Vou enterrar um morto que se quer parou de viver, mas vai parar. Vou seguir em frente sem olhar para atrás.
Não tema me perder, não se perde o que nunca se teve. Guarde-me num frasco lacrado para que o tempo não me apague.
Cuidado ao sorrir, pode fazer as pessoas se apaixonarem.
Contudo não vou roubar mais seu tempo, já roubei de mais.
Não é um fim ou um começo. É só um ponto final. Ou quem sabe uma reticência...
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Maternidade


Desde que nascera Clara sabia q era especial, mal abriu os olhos descobriu que não veria o mundo como todo mundo.
A verdade é que Clara não via. Como ela repetia para todos assim que entendeu que não podia enxergar:
_ A luz de meus olhos não existem, mas a do coração sempre estará aqui!
Clara sempre se sentiu diferente, não um diferente ruim, ela sabia que algo a protegia.
Ainda pequenina sentia que algo a rodeava e guardava, sabia que todas aquelas vezes que não caíra num buraco , ou não fora atropelada, ou mesmo acertava o caminho para qualquer lugar era essa coisa mágica que a acompanhava.
Ela tinha uma vida comum, fazia tudo que qualquer um poderia fazer, as vezes até mais...
Quando passava pela floricultura não podia ver o colorido das flores, mas sentia o poder da vida que o odor delas emanavam. Ao ouvir uma musica, não era letra e melodia, era a união de momentos do compositor com os dela. Um toque não era apenas pele com pele, mas era sentir o outro por completo. Provar um sabor novo era como colher frutas frescas do pomar.
Clara via o mundo, mas não com suas coisas ruins, sim com a pureza de construí-lo do jeito que ela imaginasse.
Contudo ela só podia ter esse maravilhoso em sua vida graças a essa força que a protegia, estava com ela todas as horas. Quando acordava ou dormia, em casa ou na rua, sozinha ou no meio de muitas pessoas.
Isso começou intrigá-la, ela precisava de respostas, o que era isso que a acompanhava.
Começou a sondar as pessoas, perguntava aos amigos, procurar em livros, queria saber o que poderia ser.
Seu pai percebendo sua inquietação a chamou e perguntou:
_Querida o que está havendo com você?
Clara tentou explicar o que sentia mas não entendia.
O pai pediu que ela se sentasse, e começou a falar.
_ Clara, durante alguns anos eu e sua mãe tentamos ter um bebê e não conseguíamos. Quando descobrimos que sua mãe estava doente juntamente descobrimos que ela esperava você. Eu não sabia o que fazer, se ficaria alegre por estar realizando nosso maior sonho ou triste por saber que em alguns meses, um ano talvez, o câncer se espalharia e eu perderia o grande amor da minha vida. E sua mãe no meio daquelas noticias tão desconcertantes virou para mim e disse: _ Amor, se as lágrimas que brotam dos seus olhos forem de tristeza é melhor que eu morra logo, pois não te permito ficar triste. Quanto nós lutamos para poder receber esse presente, nosso filho e se o preço para eu tê-lo é a eternidade, ainda estou pagando pouco. Nunca deixarei vocês. Sempre que a dor os assolarem eu estarei lá para enxugar suas lágrimas, quando o mal passar por perto eu os defenderei, não haverá do que não protegerei vocês, estarei de seu lado.
As lágrimas já escorriam dos olhos dos dois, ele continuou:
_ Filha, sua mãe ao morrer, logo após ver seu rostinho, levou de você as portas mais fáceis para o mundo, a visão. Mas deixou as portas para o maravilhoso, a liberdade de construir o mundo como você quiser. Ela vai estar do seu lado sempre, é ela que você sente.
Clara estava um pouco confusa e questionou:
_ Como pode ser?
_ Eu posso não ter a resposta que você gostaria, mas sei de uma coisa: não importa o que aconteça isso é amor, e só é assim porque ela era mãe!
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Desapego


As noites sempre foram enigmáticas para mim.
Houve um tempo que me amedrontavam, todo o seu jeito sombrio e todas as coisas ruins sempre aconteciam durante a noite, não confiaria nela nunca.
Hoje em dia ela é companheira de momentos bons e ruins, é inspiração e transgressão. É minha amiga!
Por horas me perco em sua imensidão finita, perece-me que nunca acabará, mais logo o sol brilha e ela vai embora.
Sei que sempre vai estar de volta, mais cedo ou mais tarde, é questão de fuso horário.
Essa noite precisei conversar, a noite é ótima conselheira. Ela sempre me responde com um silencio corrosivo, mas ouve muito bem.
Minha cabeça confusa começou a juntar idéias sem ordem, tudo porque o coração estava fazendo faxina (virador por natureza).
A cada briga com um sentimento para que se retirasse, as idéias se confundiam mais. Essas limpezas são complicadas...Um sai pela porta da frente em quanto outro entra pela janela, outro se esgueira pelo telhado, outros fogem pelos fundos...um caos de sentimentos atordoados.
Em quanto o vai e vem se dava, as idéias foram entrando no eixo, a razão estava dando seu jeitinho lá por cima.
O coração não se continha e a desordem, por lá, continuava.
Aproveitando o reboliço, a noite em seu silencio me fez perceber que eu precisava ouvir o que as idéias tinham a dizer, assim como os sentimentos.
Comecei pelas idéias:
_ Sabes, é claro, o que precisas fazeres! Tudo é questão de decisão! A razão é mais sábia que o coração. Ouça bem. Primeiro pares com essa graça de desperdiçar tuas lágrimas, quando realmente precisares delas te faltaram. Segundo, lembre-se seu tempo é valioso, ou deitas para dormir ou vá ler um livro, será mais construtivo do que ficar por aí no meio dessa confusão. Por último, se quiseres mesmo que isso passe, passará, é só decidir. Essa escolha só cabe a você! Não quero ser palpiteira mas digo que é o melhor a se fazer.
Pensei um pouco no que havia me dito, achei sensata e uma ótima opção. Mas já me comprometera a ouvir os dois lados, então vamos ao coração.
Percebi que estava meio confuso e cabisbaixo, mas começou a falar:
_ Desculpa não estar muito bem hoje, nem sei se tenho alguma coisa de importante a lhe dizer, só acho que não precisa seguir regras. Tenho claro dentro de mim a confusão que se meteu. Sabia que poderia sofrer quando se arriscou. Mas saiba que se não se permitisse nunca saberia como seria. É melhor sentir uma dor do que não sentir nada. Suas lágrimas devem cair quando sentires vontade de chorar, mas ria com força quando for vontade rir. Aprenda a se desapegar não a desistir, nem sempre temos o que queremos e nem o que merecemos mas sempre teremos alguma coisa. Não espere que façam alguma coisa por você, se gosta de alguém faça o que der vontade de fazer, porém só faça se for te deixar feliz depois. Não se arrependa de se apaixonar, lembre-se das borboletas: precisam lutar para saírem do casulo mas quando conseguem viram lindas flores com asas. Não quero que se despeça de nada, apenas veja as coisas com outros olhos. Não sou nada, só seu coração, mas lhe aconselho a fazer o que lhe fará feliz, contudo não se pode ser feliz sem pedras no caminho. Era só isso, faça o que quiser.
Senti-me tomada por uma serenidade acolhedora, me sentia livre para chorar ou para sorrir. Na verdade não faria diferença.
No silencio da noite esperei que o dia chegasse. O sol radiante como sempre veio entre algumas nuvens, mas estava lá.
A noite sempre voltaria, o dia sempre a esconderia, as idéias nunca me enlouqueceriam, mas o coração sempre me acalmaria.
P.S.: Sempre quando escrevo um texto, não escrevo apenas palavras, transcrevo sentimentos, não há nenhum escrito meu que não passa parte do que há dentro de mim...só que alguns desabafos não são para serem elogiados ou se quer criticados e sim refletidos...
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